sábado, 12 de dezembro de 2015

Narrativa

Eu
Sou nordestina nascida na maior cidade nordestina do país, São Paulo. Sou nordestina sim, filha de mãe baiana e pai pernambucano. Irmã mais velha de um e mãe/irmã de outro. A vida não me deu irmãs, mas meus irmãos me deram duas. Amante dos cachorros, mãe de uma filha loira de quatro patas, a Linda.
Eu, professora
Sou professora, profissão que as circunstâncias da vida me deram. Minha jornada como professora se iniciou em 2000 e desse momento em diante foram horas de trabalho, de dedicação, de estudo, de formação. Horas debruçada em cima de livros, de planejamentos, de provas. Uma profissão com muito trabalho e pouco reconhecimento. E a coisa que eu mais escuto é: “ser professor é muito trabalhoso, não porque você faz”.
Vou explicar o porquê.
Eu faço para realizar sonhos.
O sonho do Lucas de participar do Tomorrowland em Amsterdã. O sonho da Yasmin de fazer high school no Texas e se tornar cheerleader e por causa disso ganhar uma bolsa da universidade. O sonho do Julio de fazer intercâmbio de morar na Califórnia. O sonho da Wanessa e de sua filha Isabela de poder passear pela Europa e fazer isso sem guia de turismo. O sonho da Vanessa de passar um halloween na Disney e se deixar seduzir por um pumpkin bem charmoso. O do João Pedro de morar na neve do Alaska e finalmente poder aprender a andar de snowboard. O sonho do biólogo Diego de fazer trabalho voluntário em um safári africano. O da Vanessa de sair por Santa Mônica bancando a diva brasileira. O sonho do Luiz Gustavo de participar da feira do automóvel em Berlim. Fazer o mestrado tão sonhado da Bia na Índia. Realizar o desejo do Adalton de, finalmente, fazer sua pós-graduação em Harvard. O sonho da temporada que a Gabi passou no Canadá. O sonho da Carol que passou o reveillon em Malta. O sonho da Jumara e do Carlos que foi posto de lado por tantos anos para realizar os sonhos dos três filhos e finalmente poder sair pelo mundo.
Faço para mudar a vida das pessoas.
Como o Yuri que foi aprovado para ser piloto internacional. Pela Bruna que foi aprovada em um dos vestibulares mais concorridos para Medicina em todo país. Pela Marília que realizou um sonho de infância e seguiu os passos da mãe como comissária de bordo e já deu a volta ao mundo.
Faço meu trabalho para ter a oportunidade de tocar a vida das pessoas, mesmo que seja apenas uma pessoa, como toquei a vida da Carol de pupila passou a colega de profissão e faz questão de me dizer todos os dias “a culpa é sua”. Faço para ver o brilho nos olhos da Carol cada vez que uma criança a chama de teacher.
Faço pelos presentes, mas não por apenas ganhá-los. Faço pelos presentes que tocam minha alma porque um dia eu toquei de alguma maneira a alma dos alunos. Como as dos alunos mirins que se organizaram e produziram um vaso de flores de feltro por que eles sabiam que meu green thumb é pior do que o da Mortícia Adams e como disse o Fernando “toda mulher merece flores” mesmo aqueles que não levem o menor jeito com elas. Como a Natália que foi para a Austrália e em uma livraria se lembrou que meu livro favorito é Alice no país das maravilhas e trouxe um pra mim. Como a Yasmin que sabe que eu adoro cozinhar e me trouxe cupcakes decorados, por que gourmetizar é preciso. Como a Ana que passando pelo Duty Free no aeroporto de Londres se lembrou de uma aula que eu disse que a única bebida alcoólica que eu tomo é Pimms e trouxe uma garrafa na bagagem de mão pra mim. Como a Amanda que passeando pelo shopping acho esse estojo com cara de monstro a “minha cara” – vou preferir escolher que o que a fez escolher tal presente o humor e não uma semelhança física.
Faço o que faço por manifestações de carinho como uma festa de aniversário surpresa e outro bolo surpresa no mesmo dia. Faço belos abraços, pelos sorrisos, por momentos compartilhados. Tem orgulho de fazer parte de famílias e fazer parte de uma equipe e de poder fazer muita molecagem nas festas temáticas.
Faço pela felicidade de receber fotos via Facebook e Instagram. Pelas mensagens via WhatsApp. Me encho do sentimento de dever cumprido quando recebo um elogio de um aluno satisfeito, de uma mãe que não se cabe de alegria pelo sucesso do filho. O sentimento de dever cumprido transborda quando o cartão de aniversário vem em inglês.
Ser professor de inglês me proporcionou ampliar meus horizontes. Como professora, fui à África do Sul e me apaixonei. Como palestrante/estudante, fui à Oxford e voltei fascinada. Como professora assistente, fui a Londres e voltei inspirada. Como palestrante foi a Amsterdã e vi a obra da Van Gogh ao vivo... Me deslumbrei.

Eu, aluna
Mas chega um dia que nem todo o estudo feito até agora, todas as horas debruçada em livros, textos e artigos são o suficiente para essa velha professora encarar as mudanças na sala de aula, a tecnologia que não para de mudar, de avançar. Qual a solução? Se fazer aluno e voltar as carteiras acadêmicas da universidade.
Você está ai pensando “lindo”, “fantástico”, “professor adora estudar”... Sinto dizer-lhe: não é bem assim. Para quem, como eu, que mora no interior do estado o acesso à educação especializada nem sempre é fácil. Mas nada é impossível! 
Sendo assim, todos os sábados eu encaro o trânsito da rodovia Dom Pedro para tentar perder o medo da tecnologia. Sábado após sábado conhecendo, desbravando, aprendendo. Conheci tanta coisa nova que perdi as contas... Foram sites, aplicativos... Mas o que eu mais aprendi foi com as pessoas.
Conheci pessoas que vivem na prática o que escutamos todos os dias sobre a realidade do ensino público no país, suas adversidades e seus conflitos. Conheci pessoas que voltaram a sala de aula mesmo sabendo que muito do iam aprender ali não sairia do papel, mas elas estavam ali para crescer como profissionais, ou melhor, como professores, acreditando que estariam prontos a colocar tudo em prática tão logo a realidade de seu dia-a-dia mude.
Conheci pessoas que mudaram suas vidas através da educação e agora apostam suas fichas que vidas de outras pessoas também podem mudar através de suas mãos de professor.
Conheci pessoas que se fizeram professoras e ao invés de voltar a sua profissão de formação insistem em continuar educando apesar do pouco reconhecimento e do baixo salário.
Conheci pessoas que acreditam que tudo ato educacional precisa ter um fundamento social caso contrário não terá valia nenhuma.
Ouso afirmar que ter tido a oportunidade de conhecer tais pessoas e de poder saber sobre sua posição perante o intrigante mundo da educação, através do uso da tecnologia ou não, o que eles esperam de seus alunos e como educadores podemos mudar o mundo, um aluno por vez.

Eu, digital
A primeira ferramenta que nos foi apresentada foi um site, www.faceyourmanga.com. Com essa ferramenta construímos os nossos avatars.
Eis aqui, a minha interpretação do meu eu digital.


A palavra avatar é de origem sânscrita avatãra, um conceito hindu que significa a descida à terra de uma divindade que se manifesta de diversas formas. O termo foi levado ao mundo virtual onde nós, meros terráqueos, podemos nos manifestar em diferentes formas nos ambientes digitais.
Os primeiros avatars apareceram nos jogos de computador ou vídeo games onde o jogador poderia “constriur” seu avatar, sua representação virtual naquele mundo digital enquanto jogando. No início os avatars vinham prontos e tinham que ser escolhidos dentro poucas opções. Hoje os jogos evoluíram, apareceram websites e aplicativos onde podemos criar avatars de maneiras quase infinitas.
Podemos criar um avatar que é a nossa cópia virtual, podemos representar nosso alterego ou podemos, simplesmente, ser o que quisermos – dar cor, da forma, com características que bem entendermos – dentro desse mundo virtual infinito.
            Eu digital pelos olhos dos outros
Fazendo uma brincadeira com os avatars, propus a alguns dos meus alunos a seguinte brincadeira:
How do I see you
Escolha um site ou um aplicativo e crie um avatar de como você vê a sua professora. Aqui você encontra exemplos de sites e aplicativos.
Sua professora, no caso essa que vos escreve. Como a brincadeira foi opcional e anônima, os alunos soltaram sua imaginação!
Um deles me imaginou vivendo em Londres só desfilando pelos pontos turísticos da cidade. Outro lembrou que eu gosto de cozinhar e me fez chef – não sei se ele estava querendo dizer nas entrelinhas que eu seria melhor chef do que professora. O próximo me viu uma bruxa, essa descrição despensa comentários, penso todo professor tem um que de bruxo. Em minha opinião somos bruxos sim, não para ser perverso mas, para poder usufruir da maravilhas da magia para dar conta de tudo de temos que fazer!

   

No próximo avatar meu tornei um dude, não apenas isso, um South Park dude... Ri sozinha quando vi esse, para esse aluno sou mais um da turma! O próximo me fez super herói e esse eu achei cheio de simbolismo – orelhas grandes e pontudas que tudo escutam; uma tiara/coroa na cabeça para ativar a super memória que um professor precisa ter; o símbolo 4 no peito (será que é porque todo professor precisa ter a energia de 4 pessoas?); não é um bat-cinto mas, o cinto tem alguns compartimentos estratégicos para colocar tudo que precisamos durante a aula; em uma mão uma espada e em outro um soco inglês (será que esse aluno quis dizer que sou violenta ou que preciso “matar um leão por aula”?); asas nos pés, afinal todo professor precisa ser ágil; o tamanho do “corpinho”, eu prefiro nem comentar!

    

Para o próximo aluno, eu sou um docinho! Ele me transformou num M&M!!! O avatar do próximo aluno desse ter sido feito em parceria com a minha mãe... O aluno me colocou de vestido, óculos gatinha e sapatilhas com purpurina, uma lady! Só que no mundo Peanut. O próximo optou por um meme... Dele mesmo já prevendo seu futuro, resolveu deixar o meme pronto para o final do ano letivo!

   

I saved the Best for last! Esse último aluno me fez LegoÒ, não qualquer cara amarela quadrada, ele me fez mestre Yoda. Esse baixinho verde, velho, feio de orelhas pontudas e rosto peludo, é o maior e mais sábio dos cavalheiros Jedi. Aqui estou assumindo que o meu aluno me sábia e a maior entre as professoras de inglês. Sei que soou convencida, mas a outra opção é pensar que sou baixinha, verde, velha, feia, com orelhas pontudas e rosto cabeludo... Desculpe, mas vou ficar com a primeira comparação!



Eu musical
Uma das tarefas mais difíceis dessa narrativa foi encontrar a trilha sonora ideal. Claro que aprecio boa música, mas não sou nem de longe uma grande conhecedora dessa arte e penso, que como muitas pessoas, cada época de nossas vidas tem sua própria trilha sonora.
Temos aquela música que nos leva de volta à infância nos domingos na casa da vó. Uma música que nos lembra dos tempos das festinhas dos amigos de escola. Os sons são parte de nossa vida, de nossa morte e tudo que acontece no meio das duas.
Escolhi Uprising do grupo Muse. A letra dessa música nos mostra como o mundo, a sociedade, os governantes nos mantém presos a costumes, aquilo que é certo na visão dos comandantes e governantes. Uprising tem um forte conotação política, social e econômica, para entender melhor as questões levantadas por Matthew Bellamy, autor de canção, e algumas interpretações clique aqui.

O refrão dessa música nos manda um recado “We will be victorious!”. Essa a contribuição de um internauta de como ele interpreta o refrão:
“The power is in the people, as long as the people are united. If people wake up and work together in this track’s namesake “Uprising,” there’s nothing “The Man” can do to stop them.
Nós seremos vitoriosos. Como? Pra mim a resposta dessa pergunta é simples, basta apenas uma palavra: EDUCAÇÃO.
"They will not force us". Povo educado, letrado. consciente não é forçado a nada, por ninguém.
"They will stop degrading us". Povo educado, letrado. consciente não se sente diminuído, não abaixa a cabeça.
"They will not control us". Povo educado, letrado. consciente não é controlado pois possui opiniões e convicções próprias.
"We will be victorious". Povo educado, unido, desperto não pode ser 'parado' por governos e mentes controladoras.

Eu narrativa.
Toda essa trajetória foi colocada nesse vídeo. Ao som de Muse, pedaços da minha vida minha, do meu eu.