Eu
Sou nordestina
nascida na maior cidade nordestina do país, São Paulo. Sou nordestina sim,
filha de mãe baiana e pai pernambucano. Irmã mais velha de um e mãe/irmã de
outro. A vida não me deu irmãs, mas meus irmãos me deram duas. Amante dos
cachorros, mãe de uma filha loira de quatro patas, a Linda.
Eu, professora
Sou professora,
profissão que as circunstâncias da vida me deram. Minha jornada como professora
se iniciou em 2000 e desse momento em diante foram horas de trabalho, de
dedicação, de estudo, de formação. Horas debruçada em cima de livros, de planejamentos,
de provas. Uma profissão com muito trabalho e pouco reconhecimento. E a coisa
que eu mais escuto é: “ser professor é muito trabalhoso, não porque você faz”.
Vou explicar o porquê.
Eu faço para realizar sonhos.
O sonho do Lucas de participar do Tomorrowland em
Amsterdã. O sonho da Yasmin de fazer high school no Texas e se tornar
cheerleader e por causa disso ganhar uma bolsa da universidade. O sonho do
Julio de fazer intercâmbio de morar na Califórnia. O sonho da Wanessa e de sua
filha Isabela de poder passear pela Europa e fazer isso sem guia de turismo. O
sonho da Vanessa de passar um halloween na Disney e se deixar seduzir por um
pumpkin bem charmoso. O do João Pedro de morar na neve do Alaska e finalmente
poder aprender a andar de snowboard. O sonho do biólogo Diego de fazer trabalho
voluntário em um safári africano. O da Vanessa de sair por Santa Mônica
bancando a diva brasileira. O sonho do Luiz Gustavo de participar da feira do
automóvel em Berlim. Fazer o mestrado tão sonhado da Bia na Índia. Realizar o
desejo do Adalton de, finalmente, fazer sua pós-graduação em Harvard. O sonho
da temporada que a Gabi passou no Canadá. O sonho da Carol que passou o
reveillon em Malta. O sonho da Jumara e do Carlos que foi posto de lado por
tantos anos para realizar os sonhos dos três filhos e finalmente poder sair
pelo mundo.
Faço para mudar a vida das pessoas.
Como o Yuri que foi aprovado para ser piloto
internacional. Pela Bruna que foi aprovada em um dos vestibulares mais
concorridos para Medicina em todo país. Pela Marília que realizou um sonho de
infância e seguiu os passos da mãe como comissária de bordo e já deu a volta ao
mundo.
Faço meu trabalho para ter a oportunidade de tocar a
vida das pessoas, mesmo que seja apenas uma pessoa, como toquei a vida da Carol
de pupila passou a colega de profissão e faz questão de me dizer todos os dias
“a culpa é sua”. Faço para ver o brilho nos olhos da Carol cada vez que uma
criança a chama de teacher.
Faço pelos presentes, mas não por apenas ganhá-los.
Faço pelos presentes que tocam minha alma porque um dia eu toquei de alguma
maneira a alma dos alunos. Como as dos alunos mirins que se organizaram e
produziram um vaso de flores de feltro por que eles sabiam que meu green thumb é pior do que o da Mortícia Adams e
como disse o Fernando “toda mulher merece flores” mesmo aqueles que não levem o
menor jeito com elas. Como a Natália que foi para a Austrália e em uma livraria
se lembrou que meu livro favorito é Alice no país das maravilhas e trouxe um
pra mim. Como a Yasmin que sabe que eu adoro cozinhar e me trouxe cupcakes decorados, por que gourmetizar é
preciso. Como a Ana que passando pelo Duty
Free no aeroporto de Londres
se lembrou de uma aula que eu disse que a única bebida alcoólica que eu tomo é Pimms e trouxe uma garrafa na bagagem de mão
pra mim. Como a Amanda que passeando pelo shopping acho esse estojo com cara de
monstro a “minha cara” – vou preferir escolher que o que a fez escolher tal
presente o humor e não uma semelhança física.
Faço o que faço por manifestações de carinho como uma
festa de aniversário surpresa e outro bolo surpresa no mesmo dia. Faço belos
abraços, pelos sorrisos, por momentos compartilhados. Tem orgulho de fazer
parte de famílias e fazer parte de uma equipe e de poder fazer muita molecagem
nas festas temáticas.
Faço pela felicidade de receber fotos via Facebook e
Instagram. Pelas mensagens via WhatsApp. Me encho do sentimento de dever
cumprido quando recebo um elogio de um aluno satisfeito, de uma mãe que não se
cabe de alegria pelo sucesso do filho. O sentimento de dever cumprido
transborda quando o cartão de aniversário vem em inglês.
Ser professor de inglês me proporcionou ampliar meus
horizontes. Como professora, fui à África do Sul e me apaixonei. Como
palestrante/estudante, fui à Oxford e voltei fascinada. Como professora
assistente, fui a Londres e voltei inspirada. Como palestrante foi a Amsterdã e
vi a obra da Van Gogh ao vivo... Me deslumbrei.
Eu, aluna
Mas chega um dia que
nem todo o estudo feito até agora, todas as horas debruçada em livros, textos e
artigos são o suficiente para essa velha professora encarar as mudanças na sala
de aula, a tecnologia que não para de mudar, de avançar. Qual a solução? Se
fazer aluno e voltar as carteiras acadêmicas da universidade.
Você está ai pensando
“lindo”, “fantástico”, “professor adora estudar”... Sinto dizer-lhe: não é bem
assim. Para quem, como eu, que mora no interior do estado o acesso à educação
especializada nem sempre é fácil. Mas nada é impossível!
Sendo assim, todos os sábados eu encaro o trânsito da rodovia
Dom Pedro para tentar perder o medo da tecnologia. Sábado após sábado conhecendo,
desbravando, aprendendo. Conheci tanta coisa nova que perdi as contas... Foram
sites, aplicativos... Mas o que eu mais aprendi foi com as pessoas.
Conheci pessoas que vivem na prática o que escutamos
todos os dias sobre a realidade do ensino público no país, suas adversidades e
seus conflitos. Conheci pessoas que voltaram a sala de aula mesmo sabendo que
muito do iam aprender ali não sairia do papel, mas elas estavam ali para
crescer como profissionais, ou melhor, como professores, acreditando que
estariam prontos a colocar tudo em prática tão logo a realidade de seu dia-a-dia
mude.
Conheci pessoas que mudaram suas vidas através da
educação e agora apostam suas fichas que vidas de outras pessoas também podem
mudar através de suas mãos de professor.
Conheci pessoas que se fizeram professoras e ao invés
de voltar a sua profissão de formação insistem em continuar educando apesar do
pouco reconhecimento e do baixo salário.
Conheci pessoas que acreditam que tudo ato educacional
precisa ter um fundamento social caso contrário não terá valia nenhuma.
Ouso afirmar que ter tido a oportunidade de conhecer
tais pessoas e de poder saber sobre sua posição perante o intrigante mundo da
educação, através do uso da tecnologia ou não, o que eles esperam de seus
alunos e como educadores podemos mudar o mundo, um aluno por vez.
Eu, digital
A primeira ferramenta
que nos foi apresentada foi um site, www.faceyourmanga.com. Com essa ferramenta
construímos os nossos avatars.
Eis aqui, a minha interpretação do meu eu digital.
A palavra avatar é de origem sânscrita avatãra, um
conceito hindu que significa a descida à terra de uma divindade que se
manifesta de diversas formas. O termo foi levado ao mundo virtual onde nós,
meros terráqueos, podemos nos manifestar em diferentes formas nos ambientes
digitais.
Os primeiros avatars apareceram nos jogos de
computador ou vídeo games onde o jogador poderia “constriur” seu avatar, sua
representação virtual naquele mundo digital enquanto jogando. No início os avatars
vinham prontos e tinham que ser escolhidos dentro poucas opções. Hoje os jogos evoluíram,
apareceram websites e aplicativos onde podemos criar avatars de maneiras quase
infinitas.
Podemos criar um avatar que é a nossa cópia virtual, podemos
representar nosso alterego ou podemos, simplesmente, ser o que quisermos – dar cor,
da forma, com características que bem entendermos – dentro desse mundo virtual
infinito.
Eu digital pelos olhos dos outros
Fazendo uma
brincadeira com os avatars, propus a alguns dos meus alunos a seguinte
brincadeira:
How do I see you
Escolha um site ou um aplicativo e crie um avatar de como você vê
a sua professora. Aqui você encontra exemplos de sites e aplicativos.
Sua professora, no caso essa que vos escreve. Como a
brincadeira foi opcional e anônima, os alunos soltaram sua imaginação!
Um deles me imaginou vivendo em Londres só desfilando
pelos pontos turísticos da cidade. Outro lembrou que eu gosto de cozinhar e me
fez chef – não sei se ele estava querendo dizer nas entrelinhas que eu seria
melhor chef do que professora. O próximo me viu uma bruxa, essa descrição
despensa comentários, penso todo professor tem um que de bruxo. Em minha
opinião somos bruxos sim, não para ser perverso mas, para poder usufruir da
maravilhas da magia para dar conta de tudo de temos que fazer!
No próximo avatar meu tornei um dude, não apenas isso, um South
Park dude... Ri sozinha quando vi esse, para esse aluno sou mais um da
turma! O próximo me fez super herói e esse eu achei cheio de simbolismo –
orelhas grandes e pontudas que tudo escutam; uma tiara/coroa na cabeça para
ativar a super memória que um professor precisa ter; o símbolo 4 no peito (será
que é porque todo professor precisa ter a energia de 4 pessoas?); não é um
bat-cinto mas, o cinto tem alguns compartimentos estratégicos para colocar tudo
que precisamos durante a aula; em uma mão uma espada e em outro um soco inglês
(será que esse aluno quis dizer que sou violenta ou que preciso “matar um leão
por aula”?); asas nos pés, afinal todo professor precisa ser ágil; o tamanho do
“corpinho”, eu prefiro nem comentar!
Para o próximo aluno, eu sou um docinho! Ele me transformou
num M&M!!! O avatar do próximo aluno desse ter sido feito em parceria com a minha
mãe... O aluno me colocou de vestido, óculos gatinha e sapatilhas com purpurina,
uma lady! Só que no mundo Peanut. O próximo optou por um meme... Dele mesmo já
prevendo seu futuro, resolveu deixar o meme pronto para o final do ano letivo!
I saved the Best for last! Esse
último aluno me fez LegoÒ, não qualquer cara
amarela quadrada, ele me fez mestre Yoda. Esse baixinho verde, velho, feio de
orelhas pontudas e rosto peludo, é o maior e mais sábio dos cavalheiros Jedi.
Aqui estou assumindo que o meu aluno me sábia e a maior entre as professoras de
inglês. Sei que soou convencida, mas a outra opção é pensar que sou baixinha,
verde, velha, feia, com orelhas pontudas e rosto cabeludo... Desculpe, mas vou
ficar com a primeira comparação!
Eu musical
Uma das tarefas mais difíceis
dessa narrativa foi encontrar a trilha sonora ideal. Claro que aprecio boa música,
mas não sou nem de longe uma grande conhecedora dessa arte e penso, que como
muitas pessoas, cada época de nossas vidas tem sua própria trilha sonora.
Temos aquela música que nos leva de volta à infância
nos domingos na casa da vó. Uma música que nos lembra dos tempos das festinhas
dos amigos de escola. Os sons são parte de nossa vida, de nossa morte e tudo
que acontece no meio das duas.
Escolhi Uprising do grupo Muse. A letra dessa música
nos mostra como o mundo, a sociedade, os governantes nos mantém presos a costumes,
aquilo que é certo na visão dos comandantes e governantes. Uprising tem um forte conotação política, social e econômica, para entender melhor as questões levantadas por Matthew Bellamy, autor de canção, e algumas interpretações clique aqui.
O refrão dessa música nos manda um recado “We will be
victorious!”. Essa a contribuição de um internauta de como ele interpreta o refrão:
“The
power is in the people, as long as the people are united. If people wake up and
work together in this track’s namesake “Uprising,” there’s nothing “The Man”
can do to stop them.”
Nós seremos vitoriosos. Como? Pra mim a resposta dessa pergunta é
simples, basta apenas uma palavra: EDUCAÇÃO.
"They will not force us". Povo educado, letrado. consciente não é forçado a nada, por ninguém.
"They will stop degrading us". Povo educado, letrado. consciente não se sente diminuído, não abaixa a cabeça.
"They will not control us". Povo educado, letrado. consciente não é controlado pois possui opiniões e convicções próprias.
"We will be victorious". Povo educado, unido, desperto não pode ser 'parado' por governos e mentes controladoras.
Eu narrativa.
Toda essa trajetória
foi colocada nesse vídeo. Ao som de Muse, pedaços da minha vida minha, do meu
eu.